quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O tiro no paraquedista



Costumava utilizar certas analogias para descrever a pegação. Não que eu seja, assim, um Richard Gere, mas já presenciei e ouvi casos o suficiente - diga-se de passagem, mais ouvi casos do que os  vivenciei - para criar certas suposições e tentar imaginar padrões e até facilitar o meu lado. Guerra, jogo de basquete ou horta eram algumas das nomenclaturas, baseadas nos contos do finado blog Joselitando, que aderi às minhas conjecturas. Aliás, quer algo mais parecido com o jogo da conquista do que a GUERRA?!

Afinal de contas, para participar de ambas as situações, é necessário três elementos básicos: coragem, objetivo e ausência de ingenuidade. Coragem para arriscar-se em um ambiente completamente novo e confuso, do qual não se tem muitas perspectivas de sucesso, a não ser que seu pressuposto esteja certo: que você é realmente muito bom nisso; objetivo, porque ninguém enfrenta o que tem de enfrentar em nenhum desses casos aleatoriamente; e o mais importante de todos, a ausência de ingenuidade - porque você não sai de sua caminha para um ambiente novo achando que vão te confundir com o Gandhi, ou a Princesa Diana... ou acha? Costumo, inclusive, seguir o Bushido (o Caminho do Guerreiro) e deixar de considerar meu oponente como adversário ou inimigo, e sim como "meu par". Ah, não levou fé? Então vou explicar o "tiro no paraquedista", uma das táticas mais audaciosas e, até certo ponto, questionáveis tanto na guerra quanto na sedução.

Imaginem um campo de batalha. Visualizem a clássica imagem da Segunda Guerra Mundial, com os céus tingidos de cinza e canela, fuzileiros sujos e com a boca seca rachando enquanto berram "às suas posições!" O som de balas zunindo e algumas explosões evidenciam o caos que parece esse cenário. Mas será que é mesmo? O quanto essa realidade está distante da nossa? Transportando-nos para o campo de batalha clássico dos conquistadores - e conquistadoras - de corações, um bar ou boate, o ambiente passa a ser o mesmo. E não apenas ele, mas as atitudes, as personalidades, até os esteriótipos. Tudo! Talvez haja aquela relação oito/oitenta, onde habilidades e personalidade se mesclem tanto diante da possibilidade de morte quanto de vida. E cá entre nós, se você for bem sucedido, muita coisa pode nascer de um encontro, por mais casual que pareça.

Um desses casos é o tiro no paraquedista. Vislumbrem a seguinte cena: Lá vai o soldado, despedindo-se do conforto do lar e embarcando no avião, direto para a guerra. Já em vôo, rola até aquele frio na barriga. Mas ele está decidido que tem de ir à batalha. Há um objetivo, e ele tem de ser alcançado - não comum, um objetivo individual mesmo. Os riscos são grandes, mas está disposto a enfrentá-los: o objetivo é maior que isso. Enquanto isso, do solo a luta está sendo travada a ferro e fogo, alguns guerreiros disparando como verdadeiros berserkers. Outros, mais calculistas, rastejam com suas snipers para uma melhor observação do campo visual. E há até aqueles despreparados, loucos por fama e glória, que mal conseguem perceber o ziper aberto depois do pipi-time.

A porta se abre, a mochila já está bem amarrada. O soldado segura firmemente seu fuzil, a arma que, somada às suas habilidades, conquistará ao seu nome o pódium. A seguinte mensagem é captada "o campo tá vermelho! Uma loucura! Vocês terão que saltar daqui. Visual, não há fogo no raio de pouso", mas o soldado sabe que SEMPRE tem alguém preparado, mesmo para uma tentativa de ataque surpresa aéreo. O salto define aquele momento "Jerônimo", tudo ou nada. Mas um paraquedas rosa-choque, de oncinha ou cor de canela e cinza dão na mesma: é um alvo em potencial!

Aí é que o pau quebra! É novato, berserker, sniper, todos mirando o pêndulo que cai dos céus. Há quem diga, aliás, que se trata de covardia. Pessoalmente, acredito fielmente na regra da ausência de ingenuidade. E é por isso que, lá de cima, às vezes antes mesmo de ser notado, o soldado dispara de volta. Não é uma tentativa fracassada, é um aviso. Lê-se "estou aqui, vem me pegar".

O tiro no paraquedista é apenas uma das situações do que acontece na guerra. A partir do tiro de aviso, rola aqueles "confrontos" isolados com um ou outro par. A ideia é que, volta e meia, aqueles bravos combatentes dos círculos de relacionamento terminam uma relação, seja de um mês, seja de alguns anos. Há aquele período de ressaca, nem sempre proporcional ao tempo que passou no ex-relacionamento - e sim com a qualidade daquele ex-relacionamento. Mas a fila anda, todos desejam ser felizes, e partem logo que sentem confiança para buscar seu algo mais, lutar pelo que os fará sentir que têm valor. Há aqueles que saem com várias pessoas de cara, meio que para treinar. Há, claro, os galinhas, que saem com TODAS (ou todos, olha lá hein!) ad eternum. Mas também existem aqueles que querem encontrar a pessoa certa. Pode ser que cheguem ao solo antes de encontrar esse alguém, deixando de ser paraquedistas.

O que ocorre é que muitas vezes, antes mesmo de tocar o solo, um tiro certeiro acerta o paraquedista e, este, consegue retribuir com destreza. Na maioria das vezes, o primeiro acerto é justamente do paraquedista, o que mostra que, definitivamente, não há ingenuidade aqui. E essa ausência de ingenuidade, esse foco no objetivo de encontrar um par, derruba a questão da ética. Ele ou ela não está tão chateado assim, deixe de ser inseguro, ou vai perder a melhor oportunidade da sua vida! E se não rolar, foi um tiro que passou de raspão. Pegue o fuzil e vá para outra área.


Amarrei umas fitas com latinhas em um bote e deixei escondido atrás de uma pedra, na praia. Há dois anos, divido meu barco com tudo o que faltava para que sentisse completa minha vida. Eu dei um "tiro" em uma paraquedista. Eu acertei. E ela também.




Música da Vez: Tara MacLean - Fields Of Gold

domingo, 28 de outubro de 2012

Teorias de banheiro



Quando o Plural nasceu, os tempos eram outros, mas mantínhamos em mente dois desafios. Os filósofos que nos inspiravam não passavam de pessoas comuns (com um senso de humor e cultura ligeiramente superior às demais) que sabiam expor suas experiências e ideias sobre fatos cotidianos de forma surpreendentemente interessante. Não se trata daquelas revistas nas quais o filho de algum ator da Globo ganha a capa por fazer alguma coisa que QUALQUER CRIANÇA NORMAL faria. Falo sobre a capacidade de expor sua opinião e seus sentimentos sobre situações. E aí está o primeiro desafio.

Todos os dias empresas quebram - aliás, hoje em dia países estão quebrando! Pessoas morrem, relacionamentos vão e vêem, motoqueiros se esborracham em qualquer velocidade... Mulheres têm TPMs, homens choram pelo time do coração e crianças fazem pirraça por desejarem justamente aquilo que, apesar de seus esforços em desviar a atenção dela, você não pode fazer. Mas como será poder entender o que se passa na cabeça dessas pessoas exatamente nessas situações? Melhor dizendo, imaginem o quanto seria interessante entender o que se passa na cabeça dessas pessoas em todas as situações - o que nos permitiria, talvez, um know-how para a possibilidade de nos vermos envolvidos nessas situações. Acho que não há nada que o ser humano deseje mais que a possibilidade de entrar na cabeça das pessoas... Exceto, talvez, um apocalipse zumbi.

Na impossibilidade de adentrarmos o estranho mundo criado a partir da massa encefálica de cada pessoa, o Plural Metafônico surgiu com a proposta de permitir, com o máximo de detalhes, que vocês conheçam nossas opiniões, estratégias, conceitos e frustrações sobre assuntos variados do nosso cotidiano. Claro que, para atingirmos com maestria esse objetivo, deveríamos ter a extraordinária capacidade de saber nos expressar como ninguém... mas aí perderia a graça! E é exatamente nisto que consiste o "ridículo ponto de vista de quem tem tudo para dizer mas não tem a menor ideia de como".

Nunca antes havia percebido a essência dessa ideia, até ler o livro de Malcolm Gladwell "O que se passa na cabeça dos cachorros". Escrever causa, muitas vezes, frustração. Já viu a cara de quem não gostou de algum livro? Imagino quando terminei de ler Werther, de Goethe, que parecia um cachorro com diarreia. Seguindo a linha do blog "Joselitando", cujos textos e estilo nos serviram de grande inspiração, enquanto podíamos definir seus autores como "filósofos do bar" - BAR, PUB, não buteco - trato esses insights como "teorias de banheiro". Afinal, é no troninho que temos tempo para pensar em coisas absolutamente inúteis cotidianas.

O ser humano tem essa necessidade de se expressar, de compartilhar opiniões, ideias e experiências. Acredito que o objetivo de qualquer escritor não é fazer com que alguém GOSTE do que escreveu, e sim compartilhar o que vive em sua mente. O livro está aberto. Com algumas traças, uma poeirinha aqui e uma mancha de caneca de café em uma página importante, o que indica o segundo desafio: o de captar a mensagem, digeri-la e importar a experiência para seu cotidiano.



Mas este desafio é de vocês.



Música da vez: Nando Reis - Por Onde Andei