domingo, 28 de outubro de 2012

Teorias de banheiro



Quando o Plural nasceu, os tempos eram outros, mas mantínhamos em mente dois desafios. Os filósofos que nos inspiravam não passavam de pessoas comuns (com um senso de humor e cultura ligeiramente superior às demais) que sabiam expor suas experiências e ideias sobre fatos cotidianos de forma surpreendentemente interessante. Não se trata daquelas revistas nas quais o filho de algum ator da Globo ganha a capa por fazer alguma coisa que QUALQUER CRIANÇA NORMAL faria. Falo sobre a capacidade de expor sua opinião e seus sentimentos sobre situações. E aí está o primeiro desafio.

Todos os dias empresas quebram - aliás, hoje em dia países estão quebrando! Pessoas morrem, relacionamentos vão e vêem, motoqueiros se esborracham em qualquer velocidade... Mulheres têm TPMs, homens choram pelo time do coração e crianças fazem pirraça por desejarem justamente aquilo que, apesar de seus esforços em desviar a atenção dela, você não pode fazer. Mas como será poder entender o que se passa na cabeça dessas pessoas exatamente nessas situações? Melhor dizendo, imaginem o quanto seria interessante entender o que se passa na cabeça dessas pessoas em todas as situações - o que nos permitiria, talvez, um know-how para a possibilidade de nos vermos envolvidos nessas situações. Acho que não há nada que o ser humano deseje mais que a possibilidade de entrar na cabeça das pessoas... Exceto, talvez, um apocalipse zumbi.

Na impossibilidade de adentrarmos o estranho mundo criado a partir da massa encefálica de cada pessoa, o Plural Metafônico surgiu com a proposta de permitir, com o máximo de detalhes, que vocês conheçam nossas opiniões, estratégias, conceitos e frustrações sobre assuntos variados do nosso cotidiano. Claro que, para atingirmos com maestria esse objetivo, deveríamos ter a extraordinária capacidade de saber nos expressar como ninguém... mas aí perderia a graça! E é exatamente nisto que consiste o "ridículo ponto de vista de quem tem tudo para dizer mas não tem a menor ideia de como".

Nunca antes havia percebido a essência dessa ideia, até ler o livro de Malcolm Gladwell "O que se passa na cabeça dos cachorros". Escrever causa, muitas vezes, frustração. Já viu a cara de quem não gostou de algum livro? Imagino quando terminei de ler Werther, de Goethe, que parecia um cachorro com diarreia. Seguindo a linha do blog "Joselitando", cujos textos e estilo nos serviram de grande inspiração, enquanto podíamos definir seus autores como "filósofos do bar" - BAR, PUB, não buteco - trato esses insights como "teorias de banheiro". Afinal, é no troninho que temos tempo para pensar em coisas absolutamente inúteis cotidianas.

O ser humano tem essa necessidade de se expressar, de compartilhar opiniões, ideias e experiências. Acredito que o objetivo de qualquer escritor não é fazer com que alguém GOSTE do que escreveu, e sim compartilhar o que vive em sua mente. O livro está aberto. Com algumas traças, uma poeirinha aqui e uma mancha de caneca de café em uma página importante, o que indica o segundo desafio: o de captar a mensagem, digeri-la e importar a experiência para seu cotidiano.



Mas este desafio é de vocês.



Música da vez: Nando Reis - Por Onde Andei