quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ah, desgraça inerente à raça...

Em três dias, li dois livros muito... inspiradores.
"A Esposa Bórgia" e "Resistência" retratam o sofrimento de pessoas oprimidas ante à arrogância e sede de poder desmedidos de homens em contextos muito diversos.
A Esposa Bórgia, de nome auto-explicativo, discorre sobre a traição, a matança e a crueldade brutas que fizeram parte da Casa dos Bórgia até que Rodrigo Bórgia, vulgo Papa Alexandre VI foi morto, não restando mais meios de seu filho, César, difundir ainda mais a bestialidade violadora de sua natureza. Não há necessidade de comentar em minúcia o comportamente lascivo de Alexandre, bem como a relação incestuosa mantida com sua filha Lucrécia, ou as muitas mortes realizadas como lhe aprouve, visto a horripilante consistência desses fatos. Sim, fatos. Datados, historiados e autenticados, o que me dá náuseas. Entrementes, há a redundância da apresentação dos filhos ( FILHOS legítimos e assumidos ) do papa, constituídos, além dos dois já citados, por Giovanni e Jofre, os reconhecidos filhos com Vanozza, além de outros tantos que nunca receberam o sobrenome papal ( e, claro está, maldito.).
"Resistência" é um livro-diário escrito pela francesa Àgnes Humbert, prisioneira política do Terceiro Reich e do terror inerente a ele.
Àgnes sobreviveu às prisões e campos de trabalhos forçados, em despeito às doenças, falta de comida e dignidade, condições desumanas de vida e trabalho e maus-tratos dos SS. Sobreviveu à surrealidade da barbárie para contar a sua e tantas outras histórias que conheceu e viveu em seu encarceramento.
As duas obras me levaram a um estado entorpecido de um choque que já conhecera e à uma reflexão que já havia feito.
Conheci, novamente, a revolta. A repulsa, o nojo. Não dos piolhos que acometiam às prisioneiras, ou das cortesãs sifilíticas que serviam ao Santo Padre. Nojo dos homens bem vestidos, alimentados e seguros que não só permitiram como foram a raiz de toda atrocidade e desprezo à vida que conhecemos só de longe, através da leitura. EU nunca tive uma queimadura de viscose; nunca fui levada à quase cegueira pelo ácido das máquinas de produção da seda sintética, sem ingerir uma gota de água ou leite por 8 ou 10 horas ininterruptas, sofrendo com a queimação na garganta, nos olhos e na cabeça. Não tive de latir como a um cachorro, acorrentada em quatro apoios, para receber comida. E não consigo prosseguir nisso, pensando na crueldade inexorável, no equívoco recorrente da superioridade. "Ah! Desgraça inerente à raça!" É exatamente o que vimos e vemos, em meio ao caos e à degradação; à impotência e à derrota.
Então, no fundo, uma parte de mim deseja, de forma veemente, que aquelas histórias sobre Céu e Inferno sejam verdadeiras! Ou qualquer de seus equivalente que separam os punidos dos expiados.
Uma parte minha, em fogo, deseja que pessoas como Rodrigo Bórgia, Adolf Hitler e tantas outras estejam, neste EXATO instante, escaldando no 7º Círculo do Inferno. Ou, ainda melhor, na Garganta de Satanás, fria como a pedra que, em vida, eles carregaram no lugar da consciência.
Sei que não devo buscar e recorrer à essa fraqueza e dependência de uma justiça infalível, me escorar, apoiar em uma verdade que não acredito e que chego, às vezes, a desprezar. Mas desejo isso a eles, sim, com um êxtase de pura e maligna satisfação interior.
Por macular todo tipo de coisas belas que existem entre as relações humanas.
Por violar o que é a humanidade em sua essência.

2 comentários:

Klaus~! disse...

Chocante =O Má é ou num é?!

A humanidade, por inexperiência, pela sensação de "excesso de poder" e, principalmente, por radicalismo, tem cometido as maiores desgraças.

Mas devemos ter ainda fé na humanidade. Se nós podemos ter essa visão, eles também podem, mesmo que de maneira individual.


O problema dos humanos é que eles nasceram para o coletivo... mas aprenderam que o individualismo os dá mais poder, liberdade e autoridade. Pena =/

Iodes ;* disse...

Concordo, e realmente acredito que deve haver fé na humanidade e na capacidade das pessoas de serem realmente mais humanas.
Torçamos pra que chegue o dia em que elas perceberão como a vida pode ser mais feliz assim!