sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Divagações, fórmulas e cappuccino (parte 2)

"Ciranda!", disse o poeta



... É chegada então a hora na qual tudo se mescla. Quando, exatamente, é impossível definir. Talvez suas causas. Talvez a causa maior seja a abertura humana, a aceitação dos diversos pontos de vista - sendo, essa suposição, um mero ponto de vista. O certo é que a questão do limite metamorfozeou-se, de "divisor de águas", para uma sopa propriamente dita, misturados ali os opostos. Um tentativa de equilíbrio? Mas ainda fica aquela pergunta na cabeça do leitor, desde o início do texto anterior: "Tá... e daí? Que 'cê quer com isso, filho?" "Anseio por respostas", é o que devolvo! E como argumento apresento-lhes a questão: até onde um algo qualquer permanesse em sua essência, até onde o Dia é Dia? Onde é o limite, hoje, para o Dia? Entendamos melhor com o seguinte exemplo:

"Dor: s.f. Sofrimento físico ou moral; aflição; mágoa; dó (Dicionário Online Aurélio)"
Todo ser vivente está sujeito a ela. Diretamente ligada à sensibilidade, impacta em vários aspectos: físicos, morais e até sentimentais. Sim, pois quem nunca sofreu por um amor, que passe a amar mais! Inclusive, sentimento comumente representado em tatuagens por um kanji, onde lê-se (em português) "Amor", e em japonês "Ai", ironicamente onomatopéia de dor. Compartilho ainda um poema d'um dos mestres, o qual fez muita diferença para mim, e insere-se no que tange a oposição/união do Amor à Dor:






Porque
(Carlos Drummond de Andrade)

Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento
O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios.
Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo?
Por que não me convertes em rochedo?
Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis?
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer, dessa chaga, meu prazer?





Indiscutível é a necessidade do amor entre seres, entre energias. Não há, porém, relacionamento que estagne, permaneça imaculado através dos tempos. Animais são voláteis. Dois caminhos então se apresentam: a evolução ou o desfecho. Já tratado no texto de Dia dos Namorados o ciclo do amor, concentremo-nos então no desfecho. A dor da perda n'um, o peso na consciência d'outro, parecem fatores magnéticos, somam-se sem protocolo algum. O resultado é a sensação de borboletas lutando no estômago, nós amargos na garganta... mas é algo que não muda. De indivíduo a indivíduo, seja lá sua particularidade, sempre passou, passa ou passará pela mesma situação.

No desespero para reatar, feridas são abertas, a ponto de rasgar-lhe o corpo. E mesmo que o "NÃO" ecoe por sua mente, mesmo que o leia em todo lugar, ainda sem esperanças, agarra-se ao prazer de sofrer. Litros de sorvete, Djavan e Marisa Monte, e outras armas suicidas mais apelativas, como aquele DVD que deu a seus pais de natal, o filme Ghost - Do Outro Lado da Vida (1990) viram rotinas. Rotina masoquista, lágrimas de sangue a pagam, sem sinal porém de resultados. Seu sofrimento não atinge o outro. Podes, inclusive, nem querer atingí-lo. Apenas é de seu prazer sofrer por alguém, sentir que ama alguém. Atípico? Disse o poeta, "por que preferes doer-me como chaga e fazer, dessa chaga, meu prazer?" E dito feito, percebe-se então: você sofre, sofreu, ou sofrerá, mas de muito bom grado!

Nesta, apesar de ainda não totalmente "prazerosa", a dor coloca-se como necessária à pessoa para sua auto-afirmação como ser vivente, de sentimentos. Mas tratando-se do físico, onde estará esse conceito, barreira, limite?...








Música da Vez: Maurício Manieri - Eu Bem Que Te Avisei

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